Capítulo 03 - Começando os Trabalhos
Ao sair do
paraíso, me aterrissei na Terra em um beco escuro, sujo e fétido. Eu mal
acabara de chegar, e já começava a sentir os efeitos do lugar, pois várias
vozes vinham ao meu ouvido ao mesmo tempo, como se uma multidão estivesse em
minha frente, mas na verdade ali não havia ninguém além de mim. Eu podia ouvir
pessoas gritando, outras chorando; havia algumas bêbadas conversando, umas
sorrindo e outras fazendo orações; todas essas vozes inundavam minha cabeça me
fazendo ficar tonto. Então procurei focar a minha audição ali no local
silencioso que eu estava, e aos poucos, as vozes foram sumindo e dando lugar ao
silêncio que havia naquele beco. Já era noite, e passavam das vinte e três
horas. Depois que eu comecei a ouvir normalmente, que fui reparar que meu brilho
estava diminuindo, e assim persistiu até que eu pude ver que eu tinha um corpo;
minhas asas estavam ocultas, e acredito que eu estava semelhante às criaturas
de meu pai.
Resolvi sair
daquele beco e ir em direção à rua que estava iluminada, e assim que eu saí do
beco, dei de cara com um casal que veio em minha direção, e quando achei que
eles iriam esbarrar em mim, simplesmente eles atravessaram através de meu corpo
e continuaram seguindo como se nada houvesse ocorrido; foi então que percebi
que eu era invisível aos olhos humanos.
_ Assim vai ser
fácil fazer o meu trabalho. Posso observar qualquer um sem que eles saibam que
eu estou aqui. - Falei comigo mesmo em voz alta.
Comecei a seguir
aquele casal, e fui cuidadosamente observando o comportamento deles. Poucos
metros à frente de onde eu os encontrara, senti uma presença ruim; eu estreitei
meus olhos e como mágica, minha visão foi ampliada a vários metros à frente, me
permitindo enxergar um homem segurando uma arma na mão. Eu estava maravilhado
de como meu pai havia me preparado e me dado o conhecimento de tudo no mundo
dos humanos, e por essa razão, as coisas estavam fáceis para mim. Antes que o
casal se aproximasse mais do provável assaltante, eu me movi mais rápido e
passai na frente deles, assim que os dois se aproximaram de mim novamente, eu
ergui minha mão e toquei na mulher. Ela parou, encarou o parceiro e disse.
_ Nossa, eu senti
algo estranho.
_ Como assim? -
Disse o rapaz.
_ Não sei. - Ela
olhou para os lados e depois para trás. - Acho melhor a gente atravessar a rua,
esse lado está meio escuro e pode ser perigoso.
_ Tudo bem.
Os dois deram as
mãos novamente, atravessaram a rua e seguiram caminhando tranquilos e em paz.
Eu havia
conseguido ajudar as primeiras criaturas de meu pai, e estava começando a
gostar daquele trabalho. Eu me preparava para continuar andando por ali, quando
uma voz veio forte e bem audível até mim.
_ Senhor, por
favor, ajude minha filha, pois ela está sofrendo muito!
Fechei meus olhos,
e quando os abri novamente, eu estava em um quarto de hospital vendo uma mulher
debruçada sobre o corpo de uma criança que dormia em uma maca. Eu pude notar
que ela estava muito doente, e também sofria com tudo aquilo. A mulher chorava
e continuava orando.
_ Oh meu Deus, por
favor, ajude minha pequenina. - Lágrimas escorriam cada vez mais. - O que ela
fez pra merecer isso?
Vendo aquela cena,
eu não sabia o que fazer, fiquei paralisado, apenas observando o fato. Mas em questão
de segundos, uma luz esverdeada muito forte inundou o ambiente, e quando
cessou, vi outro anjo além de mim naquele quarto de hospital.
_ Olá Rafael.
Muito triste tudo isso né?
_ Sim! Mas eu não
sei o que devo fazer. - Eu pausei e olhei para a mulher, depois prossegui. -
Fui atraído até aqui, mas não sei o que devo fazer.
_ No momento certo
você saberá, não se preocupe com isso.
_ Está certo. Qual
o seu nome? Como me conhece?
_ Meu nome é
Luziel! Eu sei seu nome. - Ele sorriu. - Você vai me perguntar como eu sei. É
bem simples, anjos da Segunda Classe para cima, sabem o nome de todos os
outros. - Luziel caminhou até a menina, e portando um cetro de ouro com uma
pedra preciosa vermelha na ponta, tocou na menina.
_ O que você está
fazendo?
_ Sigo ordens dadas
pelo nosso pai. Ele ouviu o clamor da mãe dessa garota e me enviou para dar uma
solução rápida a tudo isso. - Assim que tocou na garota com o cetro, ela parou
de respirar, e desfaleceu. - Agora acabou.
Pude ver o
espírito da menina deixando o corpo, colocando-se ao lado da mãe e dando um
beijo nela. A garota me encarou, e sorriu, como se já soubesse o que viria a
seguir. A mulher debruçada sobre o corpo sem vida parou de clamar, olhou para
aquela casca, e então percebendo que ali não havia mais nada o que fazer,
começou a gritar e chorar ainda mais alto de desespero e tristeza; ela sabia
que sua filha havia morrido.
_ Você é o anjo da
morte? - Eu perguntei para Luziel.
_ Não. - Ele
sorriu para mim. - Sou o primeiro da Segunda Classe de anjos.
_ Então você
pertence ao grupo das Dominações! - Eu afirmei com toda convicção.
_ Isso mesmo. Mas
agora tenho que ir.
Luziel mal
terminara de falar, e sumira num flash. Segundos depois, a parede do
quarto começou a tremer, descascar e se partir, abrindo uma enorme porta, que
revelava uma escada dourada envolta em nuvens, nessa escadaria havia muitos
anjos em vários degraus com as asas abertas, mãos estendidas e sorriso nos
lábios. Eles chamavam pela jovem. A menina por sua vez me encarava, esperando
que eu fizesse algo com o que estava acontecendo com a mãe dela, então eu
caminhei até aquela mulher que estava inconsolável, e toquei no peito dela. A
minha mão atravessou a carne e começou a emitir uma luz dourada, e quando achei
que ia tocar no coração, eu senti algo muito forte e cheio de energia, foi
quando minha mão parou. Minha mão estava tocando a alma daquela mulher e
transmitindo a ela conforto e amor do meu pai. Assim que tirei minha mão, a
mulher parou de gritar e também cessou o choro; ela assentou-se na cadeira que
estivera outrora e voltou a orar.
_ Obrigado meu
Deus, o Senhor ouviu minhas orações e atendeu. - Ela soluçava. - Eu achei que o
Senhor mandaria a cura, mas percebo que foi melhor para ela partir para junto
de Ti. - Ela tocava o rosto da casca. - Receba a minha filha aí no céu e cuida
dela com carinho.
A menina olhou
para mim, deu um sorriso largo e então passou pela porta na parede, começou a
subir a escada e deu a mão aos anjos que aguardavam por ela, em seguida, a
porta se fechou, e a parede voltou a ser o que era.
_ Nem tudo é fácil
como eu pensei. - Eu disse alto.
Comecei a andar
pelos corredores daquele hospital, mas não entrei em nenhum dos quartos. Passei
pela porta da frente e quando saí do outro lado, eu já estava em uma ponte de
ferro bem alta, e logo á minha frente, assentado no parapeito virado para o
lado de fora, tinha um senhor de quarenta e sete anos. Me apressei para tocar
nele e convencê-lo a desistir daquilo que ele pretendia fazer, mas antes de me
aproximar, uma sombra entrou em minha frente e me empurrou.
_ Aqui não. -
Disse a sombra dando uma gargalhada e depois se materializando. - Esse aqui vai
ser nosso, nem adianta tentar impedir.
Sua fisionomia era
de um humano, mas estava vestido de roupas pretas e seus olhos eram vermelhos.
Eu tentei me aproximar novamente, mas ele abrira um par de asas negras e
lançara uma rajada de forças das trevas contra mim, que me impedia de
prosseguir.
_ Desista anjo,
aqui você não vai vencer.
_ Quem é você? -
Eu perguntei com autoridade.
_ Meu nome é
Suicídio. - Ele gargalhou. - Sou uma Hoste Espiritual da Maldade, apesar de ser
o último da Terceira Classe na hierarquia das trevas, eu sou muito bom no que
faço. E já te digo, desista, porque esse homem é meu!
_ Engano seu
espírito imundo. - Eu ergui a minha mão direita na direção dele. - Que o meu
Pai te repreenda. - O meu brilho explodiu de mim e recaiu sobre o demônio,
arrastando ele para longe dali.
Eu me aproximei do
senhor que ali estava, e toquei nele, mas senti que aquilo não era suficiente,
pois ele ainda assim pensava em suicidar-se. Eu me assentei no parapeito ao lado
daquele homem e fechei meus olhos desejando que ele pudesse me ver.
_ Quem é você? -
Disse o homem assustado. - Como apareceu aqui?
_ Olá! - Eu falei
com voz serena e doce. - Me chamo Rafael, e estou aqui para te ajudar. - Eu
sorri para ele, que me encarava. - Qual o seu nome?
_ João. - Ele me
encarava ainda assustado. - Me chamo João.
_ Por que está
aqui João?
_ Uma longa
história. - Ele encarava o rio que passava em baixo de nós. - Estou cansado
dessa vida sofrida que levo, e já está na hora de dar um fim a ela.
_ Claro que não
João. Por mais dura e difícil que seja a vida que você leve, nada justifica
você querer dar um fim a ela. - Eu toquei no ombro dele. - Pense bem, você é
tão precioso é importante para o meu pai, que eu vim de outro lugar só para
lutar por sua vida. E não falo no sentido figurado, falo no literal mesmo.
_ Seu pai que você
fala é Deus?
_ Sim! É ele
mesmo.
_ Você estava onde
antes de aparecer aqui?
_ Eu estava em um
hospital, quando vi você aqui. - Segurei na mão dele. - Chegando aqui, tive que
lutar contra um demônio para ter acesso a você.
_ Você lutou por
mim?
_ Sim! E a melhor
forma de retribuir não seria você também lutar pela sua vida?
_ Sim Rafael, você
está certo. - Ele desceu do parapeito e debruçou sobre ele apenas olhando pra
baixo. - Se Deus está cuidando de mim assim, eu vou continuar lutando.
_ Que bom que
escolheu o caminho certo. - Eu o encarei. - Não desista de lutar. Tenha isso
sempre em seu coração. Deus é contigo. - Sabendo que ele agora estava seguro,
toquei em sua cabeça e emiti um brilho forte, ficando invisível novamente em
seguida.
_ Nossa, acho que
dormi de olho aberto. O que eu estou fazendo aqui? - Disse João tentando se
situar.
No momento que eu
toquei na cabeça dele, o fiz esquecer que conversou comigo, mas garanti que a
vontade do seu coração agora era de seguir em frente. João partiu para sua casa
sem saber que eu estive ali com ele. Eu havia me virado para partir dali,
quando comecei a sentir fortes presenças negativas. Olhei para trás e vi o
demônio que eu havia expulsado dali, me encarando novamente, só que dessa vez
ele não estava sozinho.
_ Então você achou
que ia me mandar de volta para o inferno e ia ficar por isso mesmo? - O demônio
gargalhou. - Agora você vai saber do que os demônios são capazes de fazer. -
Ele gargalhou novamente. - Você não será capaz de nos deter.
Eles estavam em
sete, e pareciam estar cheios de ódio e ira. A intenção dos espíritos imundos
era uma só, me destruir; tentar pelo menos. Então ergui minhas duas mãos na
direção deles e comecei a enviar energia de luz, mas eles se uniram e criaram uma
barreira de sombra que impedia o meu ataque.
_ Acha mesmo que
seus poderes são o suficiente contra nós sete? - Ele deu um grito de ódio e
prepotência. - Pelo jeito você é novo por aqui! Dê uma olhada direitinho. -
Mais uma gargalhada. - Eu sozinho me chamo Suicídio, mas quando estamos em
sete, temos outro nome. - Um eco de gargalhadas começou a emanar deles e ressoar
por todo o ambiente. - Agora me chamo Legião, porque somos muitos!
Então estreitei
meus olhos e tive a clara visão de sete mil demônios agrupados e amontoados um
próximo do outro, com olhos vermelhos, asas negras e muito ódio. Pensei em
fugir, mas logo esse pensamento me deixou; então fechei meus olhos e desejei
que meu pai estivesse vendo tudo aquilo. Sem perder tempo, Legião veio pra cima
de mim, com garras enormes e dentes afiados, ansioso para me fazer em
pedaços, mas aproximadamente a um metro de distância pôde-se ouvir um som de
trombeta soar no céu, e então um barulho de muitas assas batendo vindo do alto.
Logo rastros de fogo seguiram de cima e pousaram bem à minha frente. Eu sorri
glorificando ao meu pai, pois diante de mim agora havia doze mil Potências,
anjos que pertenciam ao segundo nível da Segunda Classe da hierarquia
angelical; eles portavam espadas flamejantes e estavam todos dispostos a
estraçalhar os demônios que ousassem vir contra nós e contra a vontade de nosso
pai. Uma coisa era certa, uma batalha iria começar.
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ResponderExcluirNão conheço não. O que ele tem de diferencial? Mas obrigado pela dica!
ExcluirCom uma conta no Wattpad.com ou pelo app você pode posta seu livro lá. E ele será visto por milhares de pessoas que poderão comentar e curtir a onde estiver.
ExcluirBem, gostaria de saber seu nome, pois eu dei uma olhada e realmente é muito interessante. Já me inscrevi e baixei o app. Vou começar a usá-lo. Então obrigado pela dica. Que seu gesto seja retribuído por Deus com muitas coias boas!
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