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sábado, 2 de abril de 2016

Anjos e Demônios

Capítulo 04 – Apenas uma Batalha

Diante de tantos anjos e demônios, eu era o único que não estava armado. As Potências tinham espadas que flamejavam chamas vermelho amarelado e os demônios havia desenvolvido nas trevas, garras e dentes afiados o suficiente para cortar qualquer um em questão de segundos. A Legião havia cessado o ataque assim que viu o exército angelical que pousara bem à minha frente, mas isso não queria dizer que eles ainda não estavam dispostos a prosseguir com o ataque. Meus aliados eram quase o dobro de demônios, mas ainda assim eles persistiam ali, nos encarando e rosnando como cachorros bravos prestes a atacar algum intruso.
Nós, anjos, fomos criados com a essência de obediência e submissão, e dessa forma seguíamos as ordens que eram nos dadas sem questionar ou sequer hesitar um segundo sequer. Por essa razão, pude perceber que mesmo estando em maior número, as Potências estavam perdidas sem saber direito o que fazer. - Não acredito que estamos aqui com a chance de destruir esses espíritos imundos, mas não o faremos porque os meus aliados não sabem o que fazer. - Apenas pensei. As Potências se entre olhavam e ficavam aguardando algum deles tomar a frente no comando, e esse problema não fui só eu quem percebeu, pois a legião inimiga já começava a marchar na nossa direção, enquanto meus aliados apenas entravam em modo de defesa.
_ Paaaaaai! - Gritei em alto e bom som.
Não precisei continuar falando, pois meus pensamentos foram lidos, e agora uma luz muito clara e pura batera no chão, mas batera com tanta força, que gerou uma onda de impacto que jogou demônio para um lado e anjos para o outro. A luz ficava numa posição vertical e batia dois pares de asas brancas e enormes, que começavam a cobrir todo o brilho. Assim que a luz cessou, pude ver um anjo segurando uma espada dourada na mão direita; ela era adornada com fios de ouro branco nas suas extremidades e empunhadura, pedras preciosas lapidadas em um formato retangular de todas as cores possíveis seguindo uma fila que saía do capo da espada até sua ponta afiada, e no seu cabo, havia um diamante rosa, lapidado em uma forma circular; já na mão esquerda ele segurava um cetro de ouro com um anjo de quatro asas na ponta segurando um pergaminho aberto. - Que maravilha! – Eu me expressei encantado com o que eu estava vendo. O anjo estava de joelhos, e se colocando de pé, ele tomou uma postura imponente e de comando.
_ Perdoem-me meus irmãos pelo meu pouso desajeitado, tive que vir tão depressa, que quase não deu tempo de pousar. Por pouco eu furava essa matéria sólida abaixo de nós. - Ele se referia ao chão em sua forma literal. - Recebi ordens urgentes de nosso pai, e fui obrigado a usar dois quintos de minha velocidade.
Os anjos já eram bem rápidos voando na velocidade normal, e quando usavam um pouco mais de velocidade, ultrapassavam velocidades inimagináveis pelas criaturas de nosso pai.  Com toda certeza ele era um superior, pois quando pousou, as Potências demonstraram respeito.
_ Como o príncipe Camael está ocupado em outra missão dada pelo nosso pai, então eu tive que vir no lugar dele. - O anjo se posicionou para dar o comando de batalha.
Os príncipes eram os anjos superiores de uma classe de anjos. Cada grupo de anjo tinha o seu príncipe, aquele que era responsável pelo comando dos demais, mas isso era mesmo mera formalidade, pois mesmo sendo príncipes, eles também faziam missões individuais a qual não havia ninguém para eles comandarem. Camael, a quem ele se referiu, era o Príncipe das Potências, e eu presumi, que com aquela espada e cetro, aquele era o príncipe Tsadkiel, o líder responsável pelo comando das Dominações, os primeiros na Segunda Classe da hierarquia. Ele era rápido, e poderia ser muito mais, os únicos anjos mais rápidos que os da Segunda Classe eram os anjos da Primeira Classe, pois poderiam usar até o nível dez de velocidade, o que acredito nunca ter acontecido. Falando nisso, anjos no mais baixo nível da hierarquia; como eu; têm três níveis de velocidade, e raramente usamos o segundo nível; eu mesmo nunca usei; até porque sou novo nesse trabalho.
Eu mal terminara minhas observações e Tsadkiel ordenara o ataque contra os espíritos imundos, que por sua vez vinham bradando ruídos de fúria contra nós. A batalha mal havia começado, e eu já podia ver corpos de demônios estraçalhados em várias partes no chão, com os pedaços queimados por causa das espadas flamejantes das Potências. Aquilo era possível? Anjos tinham o poder de destruir os demônios? Eu achava que por serem espíritos, não poderiam ser destruídos, mas era evidente de que aquela classe com espadas flamejantes conseguiam despachar aqueles espíritos para algum outro lugar diferente da dimensão em que estávamos, pois os pedaços permaneciam no chão e não retornavam a levantar, e sequer apresentavam ter "vida". A Legião estava perdendo, e de forma esmagadora, mas havia algumas Potências feridas; alguns carregavam arranhões e feridas tão abertas que era possível ver a luz; que era do que todos nós éramos compostos; emanando da abertura das feridas. Eles estavam feridos, e pelo jeito, nós anjos, também podíamos nos ferir com aquelas garras horrendas dos demônios. Volta e meia um rastro de luz branca passava em minha frente, e quando eu parava pra olhar direito, era uma Potência arrastando vários demônios de uma só vez na ponta da sua espada. Tivemos uma vitória esmagadora; por onde quer que eu olhasse, havia corpos de demônios destruídos no chão. E ah, aquelas Potências que tinham se feriado, estavam sendo curados pela própria luz que emanava da ferida. Não éramos invencíveis, apenas difíceis de destruir; não seriam simples garras demoníacas  que acabariam conosco. Agora as Potências saltavam para o céu como um foguete saia de sua base de lançamento, e iam em alta velocidade deixando apenas um rastro de luz e energia pura. Várias já tinham partido quando Tsadkiel se aproximou de mim.
_ Você foi muito guerreiro. Parabéns.
_ Mas eu não fiz nada além de observar a batalha.
_ Justo! Você não tinha arma além de sua energia, mas ficou e encarou como um anjo guerreiro. - Ele guardou sua espada na bainha e ficou segurando apenas o cetro. - Não que eu precise reportar algo para o nosso pai, mas avisarei a Ele do ocorrido e de sua coragem.
_ Agradeço pelo elogio. Mas insisto em dizer que eu não fiz nada.
_ Tudo bem! - Ele ponderou. - Tenho mais tempo de existência do que você.  Eu já liderei muitas Dominações em várias batalhas; que não foram poucas, pois esse tipo de batalha é constante; e já vi muitos anjos armados se acovardarem diante de legiões demoníacas. - Ele me encarou. - Aceite o que eu te digo, você é muito corajoso. Bom trabalho. - Então Tsadkiel sorriu e olhou para o alto. - Nos vemos em breve. - Ele encerrou partindo como os demais, e eu continuei a minha missão.

Cerca de sessenta dias após a batalha contra a legião, eu estava olhando outro anjo cuidar de uma família, quando um anjo comum como eu, pousou em minha frente.
_ Você é o anjo Rafael?
_ Sim, sou eu! Posso ajudar em algo?
_ Não! Estou aqui para te dar um recado.
_ E qual é? Diga!
_ O Pai quer que você volte agora mesmo ao paraíso. - Ele ia saindo em direção ao outro anjo, mas voltou. - Ah, já ia deixando de falar; chegando ao paraíso, procure por Daniel, ele tem mais informações para você. - Ele pausou, e antes de se virar concluiu. - Isso é tudo. Agora pode ir!
Olhei para cima, abri minhas asas e saltei. Senti meu corpo deixar o chão em altíssima velocidade, e em segundos atravessar as constelações no espaço; também senti meu corpo deixar a aparência humana assim que adentrei ao paraíso, e minha luz voltou a emanar. Mal pisei no terreno sagrado, quando Daniel veio até mim.
_ Olá Rafael. - Sua voz era doce e amigável. - Ouvi falar de vc!
_ Oi Daniel, como está tudo por aqui?
_ Tudo na mesma. Na mais perfeita e santa paz. Como estão as coisas na Terra?
_ Estou me esforçando ao máximo para fazer um bom trabalho. O que você tem ouvido sobre mim aqui?
_ Fiquei sabendo de seu comportamento diante da batalha contra a legião, e que Tsadkiel ficou impressionado com isso. Ele chegou aqui e pediu uma audiência com o nosso Pai, que logo o recebeu.
_ E o que aconteceu?
_ O que aconteceu que ele reportou os fatos e te encheu de elogios.
_ E o que tem isso?
_ A verdade é que quando um príncipe elogia um subordinado, a tendência é que o elogiado seja elevado.
_ Elevado? - Eu me espantei. - Como assim? O que isso quer dizer?
_ Você foi convocado para retornar ao paraíso. O seu retorno é justamente para isso, você ser elevado.
_ Não sei o que isso quer dizer.
_ Você deixará de ser anjo e passará para um nível acima.
_ Isso quer dizer que... - Eu nem terminara de falar, e Tsadkiel apareceu com seu cetro de ouro.
_ Seja bem vindo Rafael.
_ Obrigado.
_ Vamos ser breves e objetivos. Pois tenho várias missões a realizar hoje, e não posso perder tempo.
_ Mas objetivo quanto a que?
_ Te elevar. Ser objetivo à sua elevação. - Ele se aproximou de mim, estendeu o cetro e tocou com ele em minha testa. - Anjo Rafael, eu, Príncipe Tsadkiel, comandante das Dominações, por ordem e permissão do nosso Pai, te elevo. Agora você deixa de ser Anjo para se tornar o Arcanjo Rafael. - Ele fez uma breve pausa. - Continue se esforçando, e chegará longe bem rápido.
Não tive nem tempo de agradecer e o príncipe partiu, tive menos tempo de assimilar a ideia, quando Daniel já chegou me abordando.
_ Bem, agora que você é um arcanjo, terá uma nova missão.
_ Já?
_ Sim! Nós somos muito ocupados, e não perdemos tempo. Nosso pai vê tudo, mas nos delega missões pra cobrir todo o espaço da Terra.
_ Entendi! Então me diga, o que devo fazer?
_ Sua missão é cuidar de uma mulher grávida, cujo a filha está prestes a nascer.
_ Mas cuidar dos humanos não é missão de anjo?
_ Cuidar dos humanos é missão de todos nós! Nunca se esqueça disso. Mas você deve ir e zelar por ela e a criança. E quando Lucy nascer, sua missão é focar nela. - Ele tocou em mim e se afastou.
_ Como sabe que ela se chamará Lucy?
_ Esse será o nome que você fará a mãe dar a ela.
_ Mas por quê eu farei ela dar o nome à filha? Onde está o livre arbítrio aí?
_ Essa criança é especial, e seu nome tem que ser esse. O nosso pai não interfere nas atitudes humanas, mas para que elas possam receber as bênçãos que Ele tem para eles, nosso pai os induz a se preparar para receber. - Ele me encarava. - Não questione, apenas obedeça. Agora vá.
Então eu desci do paraíso, e quando voltei à Terra, eu estava diante de uma mulher loira, com uma barriga enorme, trabalhando em um escritório como secretária de um médico. Apesar daquele barrigão todo, era possível notar que aquela mulher passava por dificuldades, pois ela era magra, pele seca e aparência sofrida. Me aproximei dela e olhei dentro de seus olhos, e então pude contemplar sua alma. Como eu suspeitava ela tinha uma vida muito sofrida e escassa, mas que carregava dentro de si um amor enorme pela sua filha. Me afastei dela um pouco e notei que havia um homem em pé no fundo daquela sala de espera; ele olhava diretamente para mim. - Isso não é possível. - Pensei. - Aquele homem consegue me ver? - O homem saiu da sala de forma apressada, como se não quisesse ser abordado por mim. Comecei a segui-lo, mas o mesmo não esperava por mim, sequer olhava para trás, então abri minhas asas e voei em alta velocidade e o interceptei segurando em seu braço.
_ Como você consegue me ver? Quem é você?
_ Então eles mandaram outro para me substituir?!
_ Como assim? Te substituir? Em que?
_ Enviaram você pra fazer o que eu fazia antes.
_ Quem é você? Como consegue me ver? - Perguntei olhando dentro dos olhos dele tentando ver sua alma, mas fiquei surpreso quando não achei alma nele. - O que é você?
_ Tentou achar algo que não tenho heim?! - Ele falou me confrontando. - Eu sou um anjo, assim como você!
_ Sou um arcanjo.
_ Então mandaram alguém superior a mim pra fazer o meu trabalho!
_ Mas como você pode ser um anjo, se eu não sinto a sua "graça"?
_ Isso ocorre porque eu perdi quase toda ela. - Sua expressão era de uma tristeza junto de conformidade. - Eu já fui um anjo muito forte, e durante anos fui o anjo da guarda de Camila.
_ Quem é Camila? O que aconteceu a você?
_ Camila é a mãe da criança que vai nascer.
_ A mãe de Lucy!
_ Então ela se chamará Lucy? Pelo jeito há interferências do alto escalão né? - Ele falou debochando. - Agora percebo que Clarisse é mesmo especial. - Ele sorriu e me encarou. - Antes que você pergunte quem é Clarisse, já vou logo dizendo que é o nome que Camila pretende dar a Lucy.
_ Não importa, recebi ordens e vou cumprir! - Falei com autoridade. - Não quero saber se haverá interferências divina ou não, pois não cabe a nós julgar. Mas me responda, o que aconteceu com você? Como perdeu a sua graça?
_ Eu me humanizei!
_ Como assim? - Eu falei gritando. - Isso é possível?
_ Sim! É tão possível, que há vários como eu aqui na Terra.
_ Como isso ocorre?
_ No início você age e aceita as ordens do alto sem questionar, mas com o tempo de convivência e proteção aos humanos, você passa a não obedecer cegamente, aí quando percebe, você violou a lei divina e passa então a perder a sua graça.
_ Não tem como recuperar a sua graça de volta não?
_ Tem sim, basta eu clamar ao nosso pai, e Ele me recolherá e levará ao paraíso para ser purificado.
_ E por quê então você não faz isso?
_ Porque eu não poderei mais voltar à Terra, e viver com os humanos, foi a melhor missão que eu já recebi. Não quero deixá-los. Principalmente deixar a Camila. - Ele hesitou por um instante e prosseguiu de cabeça baixa. - Ela é muito especial, e criei um vínculo muito forte a ela.
_ Você não se apaixonou por ela não né?
_ Sim! Acredito que esse foi o meu erro. Depois que isso aconteceu, eu não obedeci as ordens que eram me dadas de forma tão cega. Eu protegia Camila, até contra as ações de nossos irmãos anjos. - Ele começou a caminhar. - Agora enviaram você, e eu não poderei mais me aproximar dela.
_ Por que?
_ Um anjo quando se humaniza, perturba a ordem e harmonia celestial, fazendo com que as coisas boas que deveriam ocorrer ao protegido do anjo, passe a se tornar malefícios a ele. E você como o anjo protetor de Camila, não pode permitir que seja atacada por coisas ruins. - Ele suspirou. - Resumindo. Você terá que me destruir caso eu me aproxime dela novamente.
_ E isso é possível?
_ O que?
_ Um anjo pode ser destruído?
_ Abaixo de Deus, somente um anjo pode destruir o outro; mas é claro, desde que um seja mais forte. Se ambos tiverem a mesma força, só haverá ferimentos.
_ Demônios podem nos destruir?
_ Sim! Mas eles só conseguem destruir os anjos que estão enfraquecidos, quando os anjos estão fortes, é quase impossível disso acontecer.
_ Então quer dizer que você pode ser destruído por um demônio em sua situação atual?
_ De certa forma sim, mas tenho muita experiência em "viver" nesse mundo, então me destruir não é nada fácil. - Ele se afastava mais ainda antes de concluir. - Cuide bem deles, e tenha muito cuidado para não se humanizar como eu me humanizei. Viver cuidando de humanos pode nos causar sentimentos que não estamos habituados a conviver. - Ele me olhou como se tivesse despedindo de algo muito precioso. - Você saberá o que digo, e logo confrontará você mesmo diante de uma ordem que te pareça injusta. Adeus arcanjo, nos vemos por aí!
_ Adeus. Se cuida!

Então o anjo saiu de perto de mim, deixando eu ali observando minha nova missão. Camila estava em seu trabalho, mas parecia estar muito cansada, algo parecia anormal. Me aproximei para ajudá-la, quando a vi caindo desmaiada no chão. Tinha algo acontecendo, e eu estava disposto a agir, para protegê-la de qualquer ataque.


Continua no próximo capítulo...




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